Revista Graphprint - Edição 159 - page 7

GRAPHPRINT OUTUBRO15
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Entrevista
GRAPHPRINT: Completar 33 anos
de existência no mercado editorial
brasileiro acaba sendo um fato re-
servado aos fortes. Nesse sentido,
como você enxerga a atuação do
grupo e como a empresa consegue
sediferenciar no segmento?
Scortecci:
A Scortecci nasceu em
1982.Antes, apartir de1978, tornei-
-me editor, publicando 40 títulos,
através do Grupo Poeco, embrião da
editora. Hoje, pelos quatro selos da
Scortecci, são mais de 8 mil títulos
e
m primeira edição. Naquela época o
negóciodo livroempequenas tiragens,
praticamente, não existia. Os pionei-
ros, verdadeiros heróis, eramMassao
Ohno, Roswitha Kempf, Luz e Silva e
Torrieri Guimarães. Apendi muito com
eles. O serviço do livro, para o autor
inician
te, era simples: editoração em
linotipoou IBMcomposer, impressão
emmáquina offset de pequeno por-
te e noite de autógrafos. Não existia
ainda a internet, sites, blogs, mídias
sociais, a tecnologia da impressão
digital eespaçonas livrariasparaos livrosdos chamadosau-
toresmarginais, alternativos ou independentes. O diferencial
da Scortecci foi acreditar no “dia seguinte”, no depois, que
livros de novos autores poderiam também ganhar prêmios,
destaque namídia, espaço nas livrarias e nas grandes redes
e também vender exemplares igual e atémais que livros pu-
blicados por editoras comerciais.
GRAPHPRINT: Enquantomuitasprevisõesditamo“fim”damí-
dia impressa, sentimos a Scortecci como uma empresa que
crênopotencial do setor.Hoje seriacorretodizer queo futuro
daScortecci passa,necessariamente,por este tipodemídia?
Scortecci:
Existemmuitos “fins” para amídia impressa. Ne-
nhum deles será “trágico”, como alguns dizem e profetizam.
Os números do setor do livro sinalizam estabilidade. De cada
quatro livros comercializados um é eletrônico. Em alguns
países o eletrônico até perdeu força e, em outros, é o caso
do Brasil, nem chegou a decolar e vem, sistematicamente,
apresentando números pífios. O livro impresso é sensacional
e funcionamuito bem. Uma velha e incrível invenção antiga.
Não há nada hoje mais “sustentável” do que o livro impres-
so. O eletrônico é instável, volátil, um
corposemaenergiadaalma.Minhas
preocupações, no momento, são ou-
tras: o baixo índice de leitura que
assola o Brasil e a diminuição signi-
ficativa do número de leitores. Isso é
grave. Para a Scortecci existemmui-
tos futuros. Gosto de pensar no que
Chico Xavier nos ensinou: embora
ninguém possa voltar atrás e fazer
um novo começo, qualquer um pode
começar agora e fazer um novo fim.
Hoje o futuro da Scortecci é o livro
impresso.
GRAPHPRINT: O que significa com-
pletar 33anosdemercadoecomoa
empresavemsepreparandopara li-
dar comperfisdistintosde leitores?
Scortecci:
Aprendi, desde muito
cedo, quea frágil vidadeumescritor,
novo ounão, desconhecido oude su-
cesso, depende de seus leitores. Não
existe obra que se justifique sem um
coração leitor. Nuncame esqueço do
dia que vi no metrô, em São Paulo,
umamoça lendo um livromeu. O trem andou duas estações
eelanão tirouos olhosdo texto. Eu, sem respirar, enfiadoem
mimmesmo, delirei com a cena. Antigamente, erroneamen-
te, leitores eram apenas compradores de livros. O mercado
acordou, felizmente. Perfis são “desejos”, e cada um deles,
ummundodevontades,desonhos.Hoje,escritoresescrevem
parapúblicos específicos edeterminados. Hoje, somos siner-
gia de diferenças e minorias. Precisamos atentar ao “todo”
que isso representa.
GRAPHPRINT: Mundialmente a venda de e-book, por exem-
plo, não alcança números expressivos. A empresa apostou
nessemodelodenegócio recentemente?
Scortecci:
Omercadodee-booksécomplicado.Difícil serum
empresário de sucesso dentro dele. Para a grande maioria,
uma surpresa frustrante. Leio-os antes de dormir e em via-
gens rápidas, pelapraticidade. Gostomesmodo livro impres-
so. Não resisto a uma estante com livros, a uma biblioteca
cativante, um sebo sujo, uma livraria belíssima e a uma fo-
lha de rosto de livro preciosamente autografada com caneta
tinteiro. AScortecci também publica livros eletrônicos. Ainda
“Existemmuitos“fins”para
amídia impressa. Nenhum
deles será“trágico”, como
alguns dizem e profetizam.
Os números do setor do livro
sinalizam estabilidade. De cada
quatro livros comercializados
um é eletrônico. Em alguns
países o eletrônico até perdeu
força e, em outros, é o caso do
Brasil, nem chegou a decolar
e vem, sistematicamente,
apresentando números pífios. O
livro impresso é sensacional e
funcionamuito bem. Uma velha
e incrível invenção antiga.”
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