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GRAPHPRINT JUN/09
EDITORIAL
Ainda somos os mesmos?
Recente e decente a pesquisa, coordenada pelo Ins-
tituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(Ibase) e Instituto Polis, “Juventude e Integração Sul-
americana: diálogos para construir a democracia re-
gional”, ouviu em seis países – Brasil, Argentina, Chile,
Uruguai, Bolívia e Paraguai – 14 mil pessoas durante o
segundo semestre de 2008.
Como a juventude é vista nos diferentes países da
América do Sul? Como se posicionam jovens e adultos
sobre temas morais, éticos e políticos? Quais as prin-
cipais demandas e problemas dos jovens na região?
Estas e várias outras perguntas, num total de 50, fo-
ram espalhadas pela América do Sul. Dos entrevista-
dos, 50% foram jovens (18 a 29 anos) e 50% adultos
(de 30 a 60 anos).
As diferenças mais importantes de geração para gera-
ção indicam que os mais jovens são mais escolariza-
dos que os mais velhos – no Brasil, 3% dos jovens são
analfabetos, contra 17% dos adultos – e mais conecta-
dos à internet – no Brasil 50% dos jovens são usuários,
contra 17% dos adultos.
A pesquisa me fez lembrar Belchior, um dos poucos
compositores que alcançaram a imortalidade devido
à música “Como nossos Pais”. Será que ainda somos
os mesmos e vivemos como nossos pais? À época da
juventude deles havia tantas opções de papéis espe-
ciais? Evidentemente não vivi a juventude de nossos
pais, mas aposto o que você quiser que não, eles não
tinham tantas opções que temos hoje. A fim de satisfa-
zer a ânsia do mercado por novidades, os fabricantes
produzem impressos diferenciados diariamente. Ge-
raldo Ferreira, diretor geral da APP, durante entrevis-
ta sobre papel especial, disse que há algum tempo o
papel couché – surpresa – era considerado especial.
Produzir em papel couché era o luxo do luxo. Hoje, se
transformou em commodity. Ferreira confidenciou ain-
da que o papel destinado à impressão digital também
se tornará commodity. É uma questão de tempo, con-
cordamos. Mudamos ou não mudamos?
Depois que os papéis – especiais ou não – ancoram os
substratos e dão vida à imaginação, invariavelmente,
precisam passar pelo acabamento. Nos tempos dos
nossos pais, fato comprovado pela indústria, não por
GRAPHPRINT, o setor de acabamento era considerado
o ‘patinho feio’ da gráfica. Talvez, por serem jovens,
diziam que estavam encantados por uma nova inven-
ção, as modernas máquinas de impressão. Notaram,
é verdade, que um investimento acompanha o outro.
Pego carona na opinião de Alexandre Luz, gerente de
vendas da Man Ferrostaal: “O investimento das gráficas em sistemas de impressão modernos
tem criado gargalos no final do processo, fazendo com que a produção se acumule na etapa
do acabamento. Dessa forma, a solução para o gráfico é investir em máquinas automatizadas
que realizem as finalizações com rapidez e eficiência. O acabamento é o foco do momento.”
Mudaram ou não mudaram?
Na entrevista desta edição, Armando Storni Santiago, diretor global florestal da International
Paper (IP), fala sobre o desafio de ser o atual presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos
Florestais (Ipef), órgão que reúne a academia e as empresas da indústria de base madeireira
do Brasil. Criado em 1968, o Ipef foi uma foi iniciativa da Universidade de São Paulo (USP),
por meio de sua Escola de Agricultura Luis de Queiroz, em Piracicaba, São Paulo. Santiago
explica, entre outros assuntos, que o Brasil tinha uma necessidade premente de matéria-
prima de boa qualidade e preço competitivo, por isso começou a desenvolver pesquisa no
intuito de fazer com que essa matéria-prima se tornasse competitiva. Quarenta anos depois,
o Brasil é líder absoluto na produção de celulose a partir de fibra curta, que é o eucalipto,
sendo considerado hoje o estado da arte em termos de produção de celulose de fibra curta.
Há 40 anos, alerta Santiago, preocupamo-nos com produção abundante não só no ambiente
florestal. “O pensamento de produção e mais produção era unânime na sociedade; hoje, as
pessoas começam a ter uma consciência de que os recursos que existem no mundo não são
ilimitados e na maior parte das vezes não são renováveis. É preciso ter um cuidado sobre o
que e como fazer para preservar esses recursos que não são ilimitados nem renováveis.”
Leiam a entrevista e conheçam como funciona uma linha de pesquisa do Ipef chamada de
modelo fisiológico.
Há ainda nesta edição os dados do IBGE que apontam para o crescimento de 0,71% na pro-
dução da indústria gráfica brasileira no período dos últimos 12 meses (contados de abril de
2008 a março de 2009), em relação aos 12 meses anteriores, e queda na produção de 3,5%
no primeiro trimestre de 2009 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. É verdade que
o setor ainda sofre o impacto da contração dos mercados, iniciada com a crise internacional,
mas, para muitos segmentos da indústria gráfica já se pode ver “a luz ao final do túnel”. O
mês de março de 2009 foi bem melhor do que fevereiro para todos os grupos gráficos, exceto
para o segmento fabricante de cadernos.
Voltemos então à pesquisa: nos seis países pesquisados, os jovens compartilham com os
adultos opiniões e valores semelhantes quanto a temas morais e éticos, como a legalização
do aborto – em geral contra –, a importância do esforço pessoal para se melhorar de vida
e a visão da corrupção como principal ameaça à democracia. Até que enfim chegamos a
uma conclusão: enquanto somos os mesmos porque aprendemos com eles valores morais e
éticos, base para a vida saudável e respeitosa, somos os outros, com mais oportunidades e
opções de escolhas.
Fábio Sabbag