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ARTIGO
GRAPHPRINT OUT/09
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É preocupante constatar como algumas ques-
tões são tratadas de maneira distorcida no
Brasil, transformando-se mitos em “verdades”
e meras suposições em conceitos indefectíveis
no inconsciente coletivo. Tal vício cultural seria
menos grave se o impacto desses equívocos
não tivesse forte influência na opinião pública
e até mesmo, como ocorre em muitos casos, na
elaboração de leis e decisões judiciais.
Um desses fenômenos enviesados de informa-
ção manifesta-se paulatinamente no tocante
aos produtos impressos, como livros, jornais,
revistas e cadernos, cada vez mais acusados
de contribuir para a redução das florestas, con-
siderando que o papel é produzido a partir da
madeira. Diante da gravidade dessa informa-
ção errada, é preciso urgente e ampla reação
para o restabelecimento da verdade, antes que
se transformem em vilões da sustentabilidade
aqueles heróis da difusão cultural, do conheci-
mento e da informação.
Não se pode deixar proliferar informação ir-
responsável, em especial quando se trata de
assunto de tanta relevância, envolvendo se-
tores produtivos com milhares de empresas e
milhões de trabalhadores, como é o caso da
cadeia produtiva da comunicação impressa. As-
sim, é urgente esclarecer que os impressos e a
produção de embalagens em papel cartão não
causam desmatamento.
No Brasil, cem por cento da produção de ce-
lulose, matéria-prima do papel utilizado nos
processos de impressão, provém de madeira
colhida em florestas plantadas. Estas, além de
tornar desnecessário o desmatamento, também
contribuem para atenuar as mudanças climáti-
cas, pois em todo o período de desenvolvimento
até o corte, de sete anos, em média, sequestram
grande quantidade de carbono da atmosfera,
ajudando a reduzir os gases do efeito estufa.
As florestas cultivadas com o propósito de se
colher árvores para a fabricação de papel e
celulose são absolutamente sustentáveis. Seu
manejo permite manter grandes áreas planta-
das com pinus, eucalipto e outras espécies. A
madeira de origem certificada e integralmente
“As florestas cultivadas com o propósito de se colher árvores para a
fabricação de papel e celulose são absolutamente sustentáveis. Seu
manejo permite manter grandes áreas plantadas com pinus, eucalipto
e outras espécies. A madeira de origem certificada e integralmente
proveniente de reflorestamento atende de modo adequado à demanda
da produção nacional de celulose”
O livro, o fiscal e a capivara.
Por Alfried Karl Plöger*
proveniente de reflorestamento atende de modo adequado
à demanda da produção nacional de celulose.
A mídia impressa, por outro lado, está entre os conteúdos
da comunicação contemporânea nos quais mais se aborda
o tema da preservação, da responsabilidade socioambiental
e da ecologia. Tem sido fundamental para a formação de
uma consciência de sustentabilidade! Assim, a produção de
jornais, revistas, livros, cadernos e outros impressos não
pode, em hipótese alguma, confundir-se com os problemas
que realmente causam a devastação das matas no Brasil,
em especial na Amazônia. Entretanto, enquanto a ocupação ilegal de terras, a produção em áreas
de preservação e o contrabando de madeira continuam destruindo imensas áreas e abatendo
florestas ao léu da lei e da fiscalização, parece mais fácil culpar os impressos.
Caso não se promova amplo esclarecimento da opinião pública, corre-se o risco de se desenvolver
um conceito muito equivocado e injusto com relação à comunicação gráfica e seu processo pro-
dutivo. Como em nosso país tais tergiversações muitas vezes refletem-se na elaboração de leis
nem sempre coerentes, todo cuidado é pouco! Observem como esses fenômenos da comunicação
de massa acabam invertendo alguns valores até mesmo no âmbito da elaboração e aplicação da
legislação penal.
Por conta dessas distorções, o pequeno texto de ficção que se segue seria absolutamente factível
sob a realidade das leis brasileiras... “Em uma fazenda, ao cair da tarde, o proprietário caçava
capivaras, atualmente protegidas pela legislação ambiental. Ao abater um animal, foi surpreendido
por um fiscal, que lhe comunicou tratar-se, além de implicar multa, de crime inafiançável. Ante
a iminência da prisão, o caçador cometeu a atrocidade de atirar no homem. Enterrou a capivara,
apresentou-se dois dias depois às autoridades, confessou o crime contra o “invasor” de suas terras,
pagou fiança e, primário, até hoje está respondendo o processo em liberdade. Se tivesse sido preso
em flagrante pela morte da capivara, continuaria atrás das grades.” Um verdadeiro despautério!
Pois bem, precisamos esclarecer a opinião pública e deixar bem claro às autoridades, políticos e
legisladores que os impressos não provocam a derrubada de uma árvore nativa sequer neste país.
Caso contrário, não tardará o dia em que escrever ou ler um livro poderá ser tipificado como grave
crime contra o meio ambiente. Seria um tiro letal na cultura!
*Alfried Karl Plöger é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) e vice-
presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca)