Kodak

Desacelerando ladeira a baixo

25/05/2009 - 00:05
Por Alfried Karl Plöger*

Se é que o Congresso Nacional – distraído por tantos escândalos no atacado – ainda não revogou a Lei da Gravidade, continua válida a máxima popular de que “quanto mais alto, maior é o tombo”. E ninguém tem dúvidas sobre a “estatura” da atual crise mundial. Manda também a cartilha do aspirante a economista ou empresário que todos os problemas (e também as soluções propostas!) sejam vistos como elos do tal sistema de vasos comunicantes. Ignorar isto seria um erro fatal, capaz de quebrar empresas, desestruturar setores e fazer com que incautos confundam tsunamis com marolas.

Em algumas ocasiões, entretanto, olhar “para o próprio umbigo” pode ajudar a entender melhor a natureza e o “relógio biológico” do monstro a ser enfrentado. A balança comercial da indústria gráfica brasileira segue negativa desde agosto de 2007 e, no saldo dos últimos 12 meses, acumula um déficit que chega a US$ 111,3 milhões. O resultado de março de 2009 trouxe novo valor negativo, da ordem de US$ 3,2 milhões (importações de US$ 22,1 milhões contra exportações de US$ 18,9 milhões).

As informações são do Departamento de Estudos Econômicos (Decon) da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Aparentemente, nenhuma novidade. Apenas a confirmação de que continuaríamos, sim, ladeira abaixo. Porém, uma análise pormenorizada desse último dado mostra que, na comparação com março do ano passado, as importações recuaram 6,2% e as exportações subiram 28,5%.

A boa notícia é impulsionada, particularmente, por segmentos como embalagens (que reportaram US$ 5,5 milhões no mês), cadernos (US$ 5,2 milhões), cartões impressos (US$ 3,2 milhões), produtos editoriais (US$ 2,8 milhões), impressos promocionais (US$ 1,4 milhão) e etiquetas (US$ 486 mil). No sentido inverso, os segmentos responsáveis pelo maior ingresso de produtos impressos foram: editorial (US$ 9,6 milhões), cartões impressos (US$ 5 milhões), embalagem (US$ 4,1 milhões), impressos promocionais (US$ 3 milhões) e etiquetas (US$ 920 mil).

É verdade que os resultados do primeiro trimestre ainda descrevem uma queda de 26,4% nas vendas de produtos gráficos para o exterior, mas a ainda tímida reação de março de 2009 talvez nos permita concluir que, se a queda é inevitável, ao menos podemos ser capazes de reduzir os danos, frear e desacelerar ladeira abaixo, preparando assim a retomada da velocidade, no momento adequado.

A principal conclusão que se pode tirar desses números é que, embora as importações estejam caindo devido ao alto valor do dólar em relação ao real e as exportações também venham recuando, este último movimento já não vem ocorrendo de maneira tão drástica, apesar da retração do comércio internacional pós-crise. Sempre será possível atribuir o sucesso momentâneo desses segmentos a fatores sazonais, ao estímulo cambial e a eventuais dificuldades enfrentadas pela concorrência internacional.

Entretanto, tais argumentos, ao invés de minimizarem a conquista, apenas denotam que muitas empresas brasileiras souberam fazer uma leitura correta da realidade e promover ajustes – fugindo do otimismo infundado, assim como da histeria apocalíptica – para aproveitar as (poucas) oportunidades.

Fundamental lembrar que esses ajustes não foram efetuados exclusivamente na esteira do terremoto financeiro do segundo semestre de 2008. São fruto de um processo iniciado há cerca de uma década e que, na ocasião, tinha como objetivo modernizar a gestão e tornar a indústria gráfica brasileira mais competitiva, num mercado rapidamente globalizado.

É claro que não sabemos quando (e se) vamos recuperar nosso poder de investimento ante a crise mundial de crédito e confiança. Tampouco, se os próximos meses confirmarão os números do primeiro trimestre, solidificando o avanço das exportações. No entanto, o produto gráfico brasileiro dá sinais de que é competitivo lá fora, ainda que em meio à turbulência. Sim, nós podemos. E outros também.

*Plöger é presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf).

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