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Bracelpa forma comissão que definirá regras para reciclagem

06/10/2008 - 00:10
Após muita polêmica e expansão desenfreada do marketing do reciclado entre as empresas, o que acabou gerando uma demanda além das expectativas, o setor resolveu se organizar. Uma comissão formada por fabricantes e usuários, com ajuda da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em um total de mais de 150 participantes, definirá melhor as regras para o produto reciclado, incluindo quantidades de fibras a serem utilizadas e a sanidade do papel. "Queremos desfazer as confusões e criar regulamentações para este mercado", fala Francisco Saliba, diretor de assuntos setoriais da Associação Brasileira dos Produtores de Papel e Celulose (Bracelpa).

Há pouco mais de sete anos, o Banco Real iniciou o movimento adotando o papel reciclado em todas as suas comunicações com os clientes. Há três anos foi seguido por outras duas instituições financeiras de peso, o Banco Itaú e o Bradesco. A complicação, porém, começou mesmo em 2007 quando um Projeto de Lei começou a tramitar no Congresso Nacional, para estabelecer a obrigatoriedade do uso de papel reciclado em 30% dos impressos oficiais. "Quem fez isso não se preocupou em saber se haveria disponibilidade ou não do produto no mercado", afirma Silvio Roberto Isola, presidente do Conselho Diretivo da Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica (ABTG). Segundo Isola, nem mesmo os tradicionais fornecedores teriam condições de atender a este aumento artificial de demanda. Além disso, cada um queria especificar o quanto de fibras usadas deveria conter o papel reciclado. "Cada um tinha uma receita própria", diz Saliba.

Atualmente, o Brasil recicla 3,6 milhões de toneladas de papel por ano, cerca de 45% do consumido no mercado nacional. Mas 67% disso vai para o mercado chamado "marrom", ou seja, é usado no miolo do papelão ondulado. Dos 3,6 milhões, apenas 100 mil toneladas se destinam ao mercado de imprimir e escrever. O restante é direcionado ao mercado de papeis sanitários, que utiliza em 70% de sua produção fibras recicladas. "É preciso que se entenda que a reciclagem de papel, diferente de outros materiais, não é feita integralmente, porque as fibras se degradam", afirma Saliba. Assim, é preciso que se inclua fibras novas sempre, para manter a resistência. O aumento desenfreado de demanda elevou em 30% o preço do reciclado no último ano. O que já levou até mesmo empresas que levantaram a bandeira deste tipo de papel, como o próprio Banco Real e a Natura, a rever sua postura. Em comunicado oficial, o banco informou usará tanto certificado reciclado quanto certificado branco, o que tiver mais disponível no mercado, na melhor condição econômico-financeira. Já a Natura trocou, em agosto, o papel reciclado pelo cuchê em seu catálogo, após testes baseados na Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que analisou a cadeia da produção da publicação com os dois tipos de papel. Além disso, o couchê usado tem certificado do Forest Stewardship Council (FSC), organização internacional não-governamental que define critérios de certificação florestal e de cadeia de custódia em toda a produção do papel - que começa com o plantio da árvore até a impressão. Nos últimos meses, o que se vê é um movimento dos maiores fabricantes como Suzano Papel e Celulose e International Paper no lançamento de papéis ecologicamente corretos. "Toda nossa linha já é certificada pelo FSC, uma exigência crescente não apenas no Brasil como no mundo inteiro", explica Carlos Anibal Almeida, diretor executivo da unidade de negócios papel da Suzano. Segundo ele, o fato de ser um papel proveniente de florestas manejadas confere ao produto nacional um diferencial no mercado externo. "Mas o reciclado é muito importante porque existe 15 mil toneladas de lixo por dia só em São Paulo, o equivalente a um Estádio do Morumbi inteiro", diz Isola. "Hoje 380 mil pessoas vivem do lixo no Brasil e isso não pode ser esquecido", completa. Fonte: Gazeta Mercantil - Pág C7 - 01.10.08.

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