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Bem vindo às guerras florestais

05/11/2008 - 00:11
* Por Phillip Lawrence

A primeira tentativa registrada de rastreamento da madeira utilizada para produção foi feita na Europa, em um Decreto Real Francês datado de 1637, o qual estipulou que os membros da associação de produtores de armários tinham de marcar os móveis que faziam, de forma que se pudesse confirmar que a madeira utilizada provinha das florestas da França.

Árvores, madeira e reflorestamento tornaram-se focos de atenção da nossa geração na década de 1970, junto com a noção de que a chuva ácida estava aniquilando as florestas com uma rapidez tamanha que algumas das icônicas florestas da Europa e da América do Norte certamente seriam exterminadas dentro de um curto espaço de tempo. O segundo problema, no final da década de 1980, era onde as florestas tropicais estavam sendo “limpas” com extrema rapidez, na maior parte das vezes, por meio de queimadas, de modo a abrir lugar para o cultivo agrícola e também para servir como terras de pasto para o gado. O exemplo mais notável de “limpeza” da terra ocorreu no Brasil, onde a demanda por carne para hambúrguer no mundo ocidental foi sinônimo de vastas áreas de terra sendo devastadas por meio de queimadas, de modo que o gado pudesse ter um lugar para pastar. A taxa de devastação florestal alcançou dimensões quase inacreditáveis. O conceito de árvores, florestas e madeira sendo utilizados para fabricação de produtos não foi o problema que impulsionou a necessidade de certificações florestais naquele ponto.

A primeira menção de florestas no que concerne alguma necessidade de abordar a potencial perda de terra florestal foi feita em um comunicado do G7/G8 na conferência de cúpula de Veneza de 1987, a qual notou a necessidade de repensar e pôr um fim ao desmatamento das florestas tropicais. Em 1989, a conferência de cúpula de Paris deu seu apoio para o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento das Florestas Tropicais. Alguns anos depois, em 1992, a Organização Internacional da Madeira Tropical havia iniciado suas atividades como um grupo para o estabelecimento de padrões e para controlar a forma como os recursos de madeira tropical são explorados e utilizados no mundo todo. O foco nos recursos da madeira tropical identificaram que a madeira estava sendo extraída em muitos locais no mundo todo, não apenas nos trópicos, mas também nas geladas florestas boreais do norte do planeta.

O resultado foi a formação do Conselho de Intendência Florestal (FSC) em 1993, com a maior parte do ímpeto vindo do World Wildlife Fund (WWF). O FSC desejava, predominantemente, abordar problemas relacionados ao impacto sobre a vida florestal caso as árvores sejam exploradas. Criou um forte critério para a metodologia de exploração, o que reduziria bastante o impacto que tinha a silvicultura sobre a terra e as criaturas que lá viviam. Dispensaram atenção especial às hidrovias em sua lista de controles de gerenciamento florestal.

Uma identidade em comum
No início da década de 1990, havia muitas pessoas, especialmente no setor de produtos feitos com madeira, preocupadas com um grupo dominado por organizações ambientais, tais como o WWF. Os controles e requisitos impostos ao setor pelo FSC eram rigorosos e estes controles abrangiam problemas florestais e sociais, como, por exemplo, a abordagem da biodiversidade e as populações locais. Em resposta a isso, várias entidades do setor foram estabelecidas de modo a criar suas próprias versões de uma certificação florestal. Em 30 de junho de 1999, a organização de Certificação Florestal Pan-Européia (PEFC) foi formada com o propósito de colocar os muitos grupos diferentes que haviam estabelecido individualmente seus próprios “códigos de conduta” sob a mesma égide, uma organização superior que pudesse apresentar um selo de identidade comum para o comprador de produtos de madeira e também para o público em geral.

PEFC não é uma certificação florestal única como o FSC; PEFC é uma entidade de controle que investiga certificações individuais ou códigos de conduta florestal, determinando, em seguida, se estão atendendo a certo nível de rigor. Sendo assim, se uma certificação florestal estiver buscando aceitação por parte da PEFC, esta é considerada uma certificação florestal completa que aborda a exploração, biodiversidade e problemas da população local.

Conforme a PEFC foi obtendo mais aceitações, especialmente em sua base natal na Europa, o grupo FSC ficou preocupado com o fato de que seus rigorosos padrões não estavam sendo igualados pela PEFC e, sendo assim, o mercado estava aceitando um padrão florestal inferior. Em quase todas as oportunidades, a FSC teve como foco de seu ataque a todos no mercado que tinham outra certificação para seus produtos, que não fosse a do FSC. Estas ações impulsionaram a idéia de que o FSC era, na verdade, apenas uma outra ONG militante desejando pôr fim ao progresso industrial, em vez de ter uma preocupação real com a proteção às florestas.

Erguendo as barreiras
No entanto, uma outra visão é que a ação agressiva do FSC contra a PEFC, especificamente, aumentou o desempenho da PEFC. Isso ocorre devido ao fato de que a PEFC não respondeu com agressividade aos ataques do FSC, mas sim, reviu internamente seus próprios valores e padrões. Muitas organizações que haviam utilizado a PEFC ficaram frustradas pela aparente falta de retaliação de mercado por parte da PEFC contra o FSC. No entanto, alguns estudos acadêmicos observaram que a concorrência entre os dois elevou o padrão em geral das certificações florestais.

A PEFC mudou seu nome, depois de cerca de cinco anos de operação para Programa para o Endosso de Certificação Florestal, de modo a refletir a aceitação em âmbito mundial de seu trabalho. A PEFC tem mais área florestal sob sua certificação em comparação com o FSC. Houve diversos estudos realizados, os quais documentam a batalha ocorrida com a FSC atacando os valores da PEFC. De modo geral, a PEFC tem sido relutante no tocante ao engajamento em uma luta pública com o FSC sobre qual das duas certificações é a melhor ; em vez disso, a PEFC tem preferido dizer que ambas as certificações poderiam coexistir no mercado, por serem iguais.

Infelizmente, a atenção entre as certificações diluiu as metas originais da certificação florestal. No primeiro exemplo, no início dos anos 90, a grande preocupação de todos era relacionada à proteção da floresta tropical; fato é que apenas cerca de 4 por cento das florestas certificadas estão localizadas nas regiões tropicais do mundo.

* Phillip Lawrence atua na indústria de produtos gráficos há 35 anos, tendo sido empresário e gerente técnico e de negócios sustentáveis de uma grande multinacional do setor. Atualmente opera uma empresa de consultoria, a Eco Logical Strategies Pty Ltd, especializada em estratégia e política ambiental para o setor e é pós-graduando da University os Technology de Sydney, onde há oito anos estuda como a indústria de produtos gráficos vem respondendo às preocupações com o meio ambiente. Seu e-mail é Phillip.Lawrence@ecostrategy.com.au.

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