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COMPROMETIMENTO
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O setor de celulose e papel, apesar de ser um dos pioneiros no uso sustentável de recursos
naturais – 100% da produção nacional provêm de florestas plantadas –, não deve ficar
imune aos impactos do aquecimento global. As florestas sofrerão os efeitos das mudanças
causadas pelo acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera, com alterações nos ciclos de
chuva, pragas e outros fenômenos. Contudo, o setor também faz parte da solução dos pro-
blemas relacionados à mudança do clima, dado seu papel no sequestro de carbono. Nessa
direção, a Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel, em parceria com a consultoria
em sustentabilidade Fábrica Éthica Brasil, realizou o primeiro inventário para mapear a
pegada de carbono das empresas do setor.
O setor está mais bem posicionado para identificar oportunidades de redução de emis-
sões e negociar nacional e internacionalmente seu papel em regulamentações futuras.
A iniciativa também serve como benchmarking para o mercado, outros setores e demais
associações de categoria. De acordo com Marcelo Theoto, diretor da Fábrica Éthica Brasil,
o Inventário Setorial é uma ferramenta de gestão que permite às empresas elencar suas
emissões e, a partir daí, identificar oportunidades de redução. “Os resultados do inventá-
rio deverão auxiliar o setor nas negociações sobre a regulamentação da Política Nacional
sobre Mudança do Clima, políticas estaduais e até mesmo no âmbito internacional das
negociações do regime climático pós-2012”, comenta.
Segundo dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), para man-
ter um nível “seguro” de adaptação às mudanças climáticas, são necessários cortes mínimos
na ordem de 25% das emissões globais de GEE (Gases de Efeito Estufa) até 2020. A proposta
brasileira, de redução de suas emissões entre 36,1% e 38,9% até 2020 – em relação aos
níveis de 2005 –, conta com o auxílio fundamental da indústria de celulose e papel para am-
plificar as ações em prol da mitigação de emissões de gases poluentes.
Dados preliminares do Inventário indicam que as empresas do setor já possuem um perfil
de emissão relativamente limpo, tanto pelas remoções de carbono que acumulam em suas
Mapeando a pegada de carbono
florestas quanto pela grande utilização de
combustíveis renováveis. Mas ainda há
espaço para melhorar a eficiência ener-
gética das plantas e aumentar as remo-
ções de dióxido de carbono da atmosfera,
assim como aperfeiçoar os procedimen-
tos referentes aos recursos hídricos. “A
intensidade de carbono e de água na
fabricação de produtos deve constituir o
grande diferencial competitivo do futuro,
no mercado globalizado”, afirma Theoto.
Ele observa que, atualmente, existem
apenas duas iniciativas a esse respei-
to: a receita proveniente da venda dos
chamados “créditos de carbono”, em
especial por meio das atividades e de
projetos de Mecanismo de Desenvolvi-
mento Limpo (MDL), e o reconhecimento
do mercado, por parte de investidores e
consumidores, quanto às ações de gover-
nança climática. Neste último caso, vale
destacar a participação das empresas do
setor no Carbon Disclosure Project (CDP),
maior iniciativa mundial de sinergia entre
o setor financeiro e empresas na busca
por soluções para o desafio da mudança
global do clima.
Ciente de suas emissões, o setor pode
propor soluções técnicas e economica-
mente viáveis e, na hipótese da futura
criação de um mercado nacional de car-
bono, poderá também negociar eventuais
excedentes, resultantes de um possível
balanço positivo entre emissões e remo-
ções. “Num futuro próximo, pode-se es-
perar que o poder público estabeleça me-
tas para diferentes setores e empresas.
Quando isso ocorrer, quem já tiver seus
inventários e ações realizadas nesse sen-
tido poderá ter ganhos substanciais de
competitividade”, destaca Theoto. 
Um dos principais entraves para uma
maior adesão ao compromisso voluntá-
Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel
(ABTCP), em parceria com a consultoria Fábrica Éthica
Brasil, mostra estudo que posiciona o mercado e
identifica oportunidades de redução de emissões de
gases do efeito estufa
“Os resultados do inventário deverão auxiliar o setor nas
negociações sobre a regulamentação da Política Nacional
sobre Mudança do Clima, políticas estaduais e até mesmo
no âmbito internacional das negociações do regime
climático pós-2012”