Revista Graphprint - Edição 179

GRAPHPRINT SETEMBRO 17 7 Entrevista A essência da editora foi moldada para seguir o perfil de pequenas tiragens lá no distante ano de 1982. Certamen- te foi uma visão ousada para uma época em que o esto- que e as grandes tiragens ditavam as regras do mercado editorial. 35 anos depois você enxerga que essa escolha sustentou o sucesso do Grupo Scortecci? Sim, enxergo. Nunca duvidei do projeto e do seu sucesso, mesmo tendo pensado em desistir por três vezes. A visão “ou- sada” da época foi, durante muitos anos, o diferencial. Hoje é o próprio negócio. A opção, na época pelas pequenas tiragens levantou desconfiança e foi até motivo de piadas por muitos. Lembro que no ano de 1982 fui chamado de empresário poe- ta, de moço sonhador, algo assim. O mundo costuma ser cruel e duríssimo com os “divergentes”. De todos os elogios um eu não esqueço: o de oportunista. E me pergunto: como consegui ser “oportunista” trabalhando com livros por três décadas e meia? No início dos anos 90 o mercado de livros, que até então era para grandes tiragens, mudou. Passou a publicar também livros segmentados e a explorar nichos dos mais variados as- suntos. Mais títulos e tiragens menores. Foi nessa época que a Scortecci cresceu e conquistou o seu espaço. Recentemente, vocês apresentaram duas plataformas que vão atender a autores, editoras e distribuidoras de livros. Cite os diferenciais desse investimento. No início o projeto era um “dois em um”. Na cabeça veio aquela história do aparelho de som 3 x 1, que na verdade nunca funcionou. No final de 2016 já estava com tudo pronto. Em janeiro deste ano “deletei” tudo e comecei do zero. Esse negócio de tudo junto e misturado não se sustenta. Gosto das coisas simples. A plataforma 1 é uma reinvenção da Fábrica de Livros, agora para autopublicação. O autor entra lá e publi- ca o seu livro fazendo upload dos arquivos de miolo e capa. Opção para tiragens de até 50 exemplares, preto e branco ou colorido, nos formatos tradicionais de mercado. Retira sua encomenda na editora ou recebe seus exemplares através do serviço dos Correios. Ainda estamos trabalhando na platafor- ma. Isso parece não ter fim. Um ponto que não abro mão no processo da autopublicação: o atendimento. Quando o autor, por qualquer razão, não consegue publicar sua obra na plata- forma, entramos em contato e o ajudamos no que for preciso. A plataforma 2 é a Print on Demand, que presta serviço de impressão a editoras e distribuidoras. Tiragens de até 100 exemplares. Entregamos a encomenda na editora ou na dis- tribuidora. Não armazenamos arquivos nem complicamos o processo. Um pedido gera uma ordem de serviço e isso é mais do que suficiente para o mercado. Infelizmente, o mercado livreiro está bem assustado com os recentes números apresentados pelo setor. Há uma tendência de queda, sendo que nos últimos dois anos a indústria do livro acumulou uma redução de 17% de seu faturamento de acordo com estudos do Snel. Mesmo as- sim, num presente e futuro bem próximos, já ressurge a expectativa de retomar as vendas. Você acredita que o “livro” ainda tem muitos caminhos para explorar? Os números de 2016 são desanimadores. A queda foi signifi- cativa, muito além do esperado. Penso que o pior já passou. Mesmo assim, será necessário muito tempo para recuperar as perdas e voltar a crescer. A crise afetou toda a cadeia produtiva do livro. A roda parou. Para colocá-la novamente em movimento, vamos precisar de ajustes, medidas amargas e, infelizmente, aumentar os pre- ços. O livro está muito barato e não remunera o negócio nem abre margem para novos investimentos. Mesmo em momento de turbulências econômicas e polí- tica, a Scortecci conseguiu crescer? Quanto evoluiu em 2016 e qual a expectativa para 2017? A Scortecci cresceu 17% em 2015. Em 2016 empatou. Não “Lembro que no ano de 1982 fui chamado de empresário poeta, de moço sonhador, algo assim. O mundo costuma ser cruel e duríssimo com os “divergentes”. De todos os elogios um eu não esqueço: o de oportunista. E me pergunto: como consegui ser “oportunista” trabalhando com livros por três décadas e meia? No início dos anos 90 o mercado de livros, que até então era para grandes tiragens, mudou. Passou a publicar também livros segmentados e a explorar nichos dos mais variados assuntos. Mais títulos e tiragens menores. Foi nessa época que a Scortecci cresceu e conquistou o seu espaço.”

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