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GRAPHPRINT JAN/FEV 13
Sustentabilidade
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número medido está correto e você vai
reportar para o mundo de uma maneira
transparente o que fez. Se você olhar para
o Ibope, é exatamente isso o que ele faz
no mercado de audiência, que é auditado
também. É o core business do Ibope. Nos-
sa maneira de operar leva em conta exata-
mente os mesmos princípios que o Ibope
sempre executou nas áreas em que atua.
GRAPHPRINT: Por que acha que nenhu-
ma outra empresa brasileira havia obti-
do essa chancela antes?
Watanabe:
Teve uma empresa que co-
meçou o processo e acho que desistiu
porque estava ficando difícil e longo de-
mais. Eu conheço algumas empresas
que estariam habilitadas a isso, mas elas
não se interessaram. Esse é um mercado
competitivo. As pessoas perguntam “com
mercado de carbono desaparecendo, ago-
ra vocês vão virar certificadora?”. A esse
tipo de questionamento eu respondo que
o mercado internacional como existia
antigamente encolheu e, talvez, só volte
daqui a três ou quatro anos. Mas ain-
da existe uma série de possibilidades.
Existe um movimento de empresas e
eventos, como as Olimpíadas e a Copa
do Mundo, para compensar emissões. E
os créditos terão que ser comprados de
algum lugar. Continua existindo o mer-
cado, mas com outros valores. A ques-
tão é como montar uma operação para
trabalhar com uma margem menor do
que existia antigamente.
GRAPHPRINT: Na prática, como se dará a
realização desse trabalho?
Watanabe:
Há todo um procedimento ab-
solutamente padrão dentro do protocolo
de Kyoto. O proponente escreve o projeto
e nós vamos lá verificar se aquilo que está
escrito é verdade ou não. Como ele orçou
o preço de uma turbina, por exemplo. A
gente verifica os fundamentos dos núme-
ros, das informações. Não é uma auditoria
na empresa, mas no projeto em si.
GRAPHPRINT: Qual é a expectativa de vo-
lume de negócios nesse segmento, para
a empresa, em 2013?
Watanabe:
Somando todas as atividades,
não só a certificação da ONU, a gente tem
a perspectiva de fechar pelo menos entre
60 e 80 projetos de certificação.
GRAPHPRINT: O Ibope Ambiental atende-
rá a todo o mercado brasileiro?
Watanabe:
Neste primeiro ano de opera-
ção a certificação será só para os projetos
ligados a energia renovável. Mas ao longo
do próximo ano, provavelmente, vamos
nos habilitar para trabalhar com aterros e
projetos florestais.
GRAPHPRINT: Sobre o mercado de de-
senvolvimento sustentável como um
todo, qual a sua visão do momento que
vive o setor? Você está otimista?
Watanabe:
Há certos pontos do desen-
volvimento sustentável que vieram para
ficar, não há volta. Mas quando você tem
uma recessão no mundo, uma baixa ativi-
dade econômica, você sacrifica o meio
ambiente. A gente está num dilema
enorme. Temos discussões importan-
tes acontecendo, como a construção e
os impactos de Belo Monte. E aí você
tem uma briga entre a ala desenvolvi-
mentista e a ala ambiental. Temos que
procurar negociar pontos de equilíbrio,
preservando o máximo possível o de-
senvolvimento e o meio ambiente. Mas
ainda não existe resposta certa. Usinas
solares são ótimas, mas o custo delas
é altíssimo, por exemplo. Temos que
pensar: o que é melhor para o Brasil?
Só vai ter saída a hora que a gente não
for mais radical de um lado ou de outro.
As negociações têm que acontecer num
padrão diferente.
GRAPHPRINT: Em termos globais, o Bra-
sil está muito atrasado ainda? Falta mais
comprometimento da sociedade?
Watanabe:
Acho que está acontecendo
um retrocesso no resto do mundo por
causa da recessão. O Brasil está mais
atrasado porque, de repente, temos as
classe C e D emergentes ávidas por um
padrão de consumo mais alto. Mas isso
é uma questão de tempo. Com o acesso
à educação, todos irão aprender a impor-
tância de reduzir o impacto no planeta.
Tem gente nova aparecendo no mercado,
o que é genial. Tem pouca coisa menos
sustentável do que a pobreza.
“Neste primeiro ano de operação
a certificação será só para
os projetos ligados a energia
renovável. Mas ao longo do
próximo ano, provavelmente,
vamos nos habilitar para
trabalhar com aterros e projetos
florestais”