Revista Graphprint - Edição 155 - page 58

ARTIGO
GRAPHPRINT JUNHO15
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Em época de vacas magras e juros gordos, quem
paga o pato são as empresas e os trabalhadores,
que ficam sem crédito, respectivamente, para finan-
ciamentoeconsumo. Essaperversaequaçãoestáno
epicentrodaatual crisebrasileira. Por isso, sãomui-
tocorretasascríticasdequeamesmicedaSelicalta
para conter a inflação já se esgotou como solução
há muito tempo. Está faltando criatividade, ousadia
e transparência por parte do governo, que mantém
a sociedade na expectativa do que pode acontecer.
Prova da ineficiência dos juros comomecanismo de
estabilidade dos preços na atual conjuntura brasi-
leira é que as previsões inflacionárias para este ano
são as maiores da década, superando a 8%, com o
Vacasmagras e juros gordos
PorSidneyAnversaVictor*
*PresidentedaAbigraf Regional SãoPaulo (Associação
Brasileirada IndústriaGráfica-SP).
fator agravantedaestagnação. Nãoépossível queos especialistasdogover-
no não tenham consciência dessa conta tão simples, que todos já enxerga-
ram. OproblemaéqueBrasílianão temcomomudar ofilmedaSelicpor uma
questão indisfarçável: o desequilíbriofiscal.
Na verdade, aUnião precisa pagar juros altos por seus papéis para continuar
captando recursos destinados ao financiamento da dívida pública, alimenta-
da durante muito tempo por despesas maiores do que as receitas. A perda
de credibilidade do governo, causada não apenas pela questão fiscal, mas
também por episódios como “mensalões” e “petrolões”, também exige que
seus títulos paguemmuito para atrair aplicações de dinheiro.
Estamos, assim, numa tempestademaisdoqueperfeita. Éum círculo vicioso
com força de tufão, no qual giram desordenadamente a retração do nível de
atividades,odesequilíbriofiscal,os jurosaltos,a inflaçãoeodesempregoem
alta.Aeconomiabrasileiraestáaparentementesem rumo.ApresidenteDilma
Rousseff parece cada vezmais retraída e cautelosa antes de anunciar novas
políticaspúblicas,emmeioaodesabamentodesuapopularidadeeàcrisede
relacionamento com aCâmara dosDeputados e oSenado.
Enquanto isso, as empresas enfrentam cada vezmais dificuldades para ven-
der, capitalizar-se, manter postos de trabalho e as portas abertas. Tais obs-
táculos refletem-se no índice de confiança do empresário gráfico brasileiro,
relativo ao primeiro trimestre deste ano, que caiu para 41 pontos, ante 48,4,
nos últimos trêsmeses de 2014. EmSão Paulo, o recuo foi mais drástico, de
45,8para 36,2.
Oestudo, queacabade ser anunciadopelaAssociaçãoBrasileirada Indústria
Gráfica (Abigraf),mostra, ainda, que o aumento do preço da energia elétrica
teve impacto muito grande para 63,5% do empresariado do setor. Apenas
4,2% dizem não terem sido afetados. Além disso, o risco de racionamento
de eletricidade influencia a decisão de investimento de 35,1% das gráficas
e impõe plano de contingenciamento para 17,7%. Na soma relativa às crises
hídricaeenergética,aproduçãodasempresasmédias foimuitoafetada,bem
como investimentos. Os grandes impressores tiverammargens impactadas,
mas semdanos graves à produção e planos de investimento.
Diante de tantos problemas a serem resolvidos, é desagradável constatar, a
cada reuniãodoCopom,queogoverno insisteembuscar soluçõesapenasna
síntese superada dos juros altos.
1...,48,49,50,51,52,53,54,55,56,57 59,60
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